nada, água e fogo.

Júlia Renata
2 min readDec 1, 2022

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o nada cai no chão e se estilhaça em mil pedaços, cacos que formam lembranças apagadas de uma vida sem fé. o esforço para juntá-los diz pouco sobre a minha vontade de me cortar, e só não posso porque seria ferir o pouco que tenho de nós. cacos de você em mim. fiquei com o que não sobrou, e sempre me pergunto se esqueceram de mim na hora de separar as memórias pra quem fica. me pergunto tanta coisa que fica fácil constatar que todas as respostas serão sobre o que não me deixaram. insisto nas perguntas porque sou uma farsa que ri do seu próprio nada. gosto de falar e digo muitas coisas do fundo do meu coração, mas não deixo de ter a responsabilidade de admitir que me aproveito das palavras. sobre você eu sempre minto bem.

admito aqui que sou feita de nada, água e fogo.

bebo água enquanto me queimo por vontade própria. sou a farsa que diz que sublinha linhas e na verdade, as risca. quando estou quieta é porque tenho sede de lembrança, não tenho água suficiente pra dar conta desse fogo. fogo é a morte, a água é você e o nada é o que eu lembro. acredito que o nada em mim equilibra e mantém esses opostos.

por isso é que estou tentando nomear (sem sucesso algum) o nada, não me sobrou fé para acreditar que as palavras me confortarão.

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Júlia Renata

‘’Sei que a mudez , se não diz nada, pelo menos não mente, enquanto as palavras dizem o que não quero dizer.’’